Thursday, April 20, 2006
Tuesday, April 18, 2006
Culturistas
Os ginásios em Portugal são ocupados por alguma gente estranha: Os pseudo-culturistas! Quando ouvi falar em culturistas, pela primeira vez, teria aí uns 6 anos de idade e não foi nada fácil a assimilação do conceito. Para mim culturista devia ser uma pessoa instruída e ligada ao saber, às coisas do espírito, ao estudo das artes. Lembro-me de estar a olhar a televisão e de ouvir o meu pai dizer-me que aquele gajo todo reluzente e untado de óleo em posições muito caricatas era um culturista. Foi estranho! Entender que aquilo que a princípio pensei ser uma exibição televisiva de um indivíduo com má formação genética, à espécie das que faziam alguns circos no passado (“E agora, meninos e meninas, senhoras e senhores, aqui está o monstro que vive apenas com um terço do cérebro!”), podia ser apelidado de C-u-l-t-u-r-i-s-m-o foi, no mínimo, difícil.
Bem, muitos anos depois, tenho agora a hipótese de estudar um outro tipo de culturistas: Os psuedo-culturistas que frequentam o mesmo ginásio que eu. A vida dá-nos uma mão cheia de oportunidades: Aos 6 anos deram-me a possibilidade de discernir sobre aquilo que não queria ser um dia, agora, isto, esta capacidade de reformular a minha escolha.
A cena começa e acaba sempre nos balneários. Os culturistas chegam e começam a dar a primeira olhadela no espelho. Não há nada como iniciar desde logo a socialização com a única coisa neste mundo que lhes irá dizer “Tu és mesmo uma potência (da raiz quadrada de zero)!”: O bendito Espelho. Sacam do loquete ou do cadeado, escolhem um dos inúmeros cacifos, e começam a muda: Tiram a roupa de culturistas à paisana (CP) e passam a culturistas de uniforme (CU), por duas ou três horas, diariamente, todo o santo ano. Alguns conseguem grunhir qualquer coisa à entrada, tipo “...ia”, “…arde”. A princípio pensava que estavam a arrotar, desprezando completamente a minha presença, agora sei que estão mesmo a saudar-me com um bom-dia ou uma boa-tarde. Nunca os vi capazes de completarem a frase com mais alguma coisinha, um ou dois adjectivos, um verbo, um advérbio, qualquer coisa.
Já à CU, dão mais uma olhada no espelho, meios de lado para verem se os músculos estão evidenciados convenientemente, alguns ajeitam os cabelos com um pouco de água, quase todos se deixam ficar por ali uns três minutos a ouvir o segundo elogio do dia, do mesmo espelho: És mesmo bonito, carago!
Seguem na direcção da sala de musculação com a toalha aprumada rigorosamente nos costados e com uma garrafa toda kitada, de algo muito mais que simples água, no sovaco ou numa das mãos revestidas de luvas coloridas, para evitar os calos. Uma outra secção de espelhos surge no seu caminho para o exortar da beleza do movimento. “Tens mesmo jeitinho de modelo!”, diz cada uma das dez placas de espelhos que se apresentam no corredor. Olham para trás para o próprio rabo avaliando que talvez o tenham que trabalhar um pouco mais, se querem chegar a algum lado, e entram na sala da dita musculação (“culturação”, neste caso). Dão uma micada de cima para baixo, assim, tipo marinheiro, querendo mostrar uma altivez que não possuem. A sala até pode estar repleta de gajas que isso não retira qualquer ponto na escala de relevância aos espelhos ou aos pesos. E começa a sessão. Três bombadas no bicepe direito e mais uma olhadela no espelho: “Estás a rebentar querido!”. Outra posição, agora com foco no tricípete. Mais meia dúzia de bombadas rápidas. Mais uma miradela no espelho, mais uma voltinha, mais uma pose. Numa sessão de sexo penso que serão incapazes de trocar a posição do missionário por qualquer outro tipo de ousadia, mas ali, no meio daquele ferro todo, é sempre a abrir! Deitados de costas ou de barriga, em pé, na diagonal, encostados à parede, de cócoras, não importa, têm orgasmos com toda aquela variedade de objectos férreos e fálicos. Orgasmos múltiplos, digo eu. O espelho está sempre lá, em todas as esquinas, como o juiz ou o treinador que manda malhar mais na articulação X, no músculo Y ou no pentelho Z. Em dois dias conseguem criar qualquer coisa que nem a mãe natureza em dois milhões de anos tem a capacidade de construir: É só querer e malhar, arduamente, ao som do “Estás lindo querido” de cada um dos espelhos.
Bem, muitos anos depois, tenho agora a hipótese de estudar um outro tipo de culturistas: Os psuedo-culturistas que frequentam o mesmo ginásio que eu. A vida dá-nos uma mão cheia de oportunidades: Aos 6 anos deram-me a possibilidade de discernir sobre aquilo que não queria ser um dia, agora, isto, esta capacidade de reformular a minha escolha.
A cena começa e acaba sempre nos balneários. Os culturistas chegam e começam a dar a primeira olhadela no espelho. Não há nada como iniciar desde logo a socialização com a única coisa neste mundo que lhes irá dizer “Tu és mesmo uma potência (da raiz quadrada de zero)!”: O bendito Espelho. Sacam do loquete ou do cadeado, escolhem um dos inúmeros cacifos, e começam a muda: Tiram a roupa de culturistas à paisana (CP) e passam a culturistas de uniforme (CU), por duas ou três horas, diariamente, todo o santo ano. Alguns conseguem grunhir qualquer coisa à entrada, tipo “...ia”, “…arde”. A princípio pensava que estavam a arrotar, desprezando completamente a minha presença, agora sei que estão mesmo a saudar-me com um bom-dia ou uma boa-tarde. Nunca os vi capazes de completarem a frase com mais alguma coisinha, um ou dois adjectivos, um verbo, um advérbio, qualquer coisa.
Já à CU, dão mais uma olhada no espelho, meios de lado para verem se os músculos estão evidenciados convenientemente, alguns ajeitam os cabelos com um pouco de água, quase todos se deixam ficar por ali uns três minutos a ouvir o segundo elogio do dia, do mesmo espelho: És mesmo bonito, carago!
Seguem na direcção da sala de musculação com a toalha aprumada rigorosamente nos costados e com uma garrafa toda kitada, de algo muito mais que simples água, no sovaco ou numa das mãos revestidas de luvas coloridas, para evitar os calos. Uma outra secção de espelhos surge no seu caminho para o exortar da beleza do movimento. “Tens mesmo jeitinho de modelo!”, diz cada uma das dez placas de espelhos que se apresentam no corredor. Olham para trás para o próprio rabo avaliando que talvez o tenham que trabalhar um pouco mais, se querem chegar a algum lado, e entram na sala da dita musculação (“culturação”, neste caso). Dão uma micada de cima para baixo, assim, tipo marinheiro, querendo mostrar uma altivez que não possuem. A sala até pode estar repleta de gajas que isso não retira qualquer ponto na escala de relevância aos espelhos ou aos pesos. E começa a sessão. Três bombadas no bicepe direito e mais uma olhadela no espelho: “Estás a rebentar querido!”. Outra posição, agora com foco no tricípete. Mais meia dúzia de bombadas rápidas. Mais uma miradela no espelho, mais uma voltinha, mais uma pose. Numa sessão de sexo penso que serão incapazes de trocar a posição do missionário por qualquer outro tipo de ousadia, mas ali, no meio daquele ferro todo, é sempre a abrir! Deitados de costas ou de barriga, em pé, na diagonal, encostados à parede, de cócoras, não importa, têm orgasmos com toda aquela variedade de objectos férreos e fálicos. Orgasmos múltiplos, digo eu. O espelho está sempre lá, em todas as esquinas, como o juiz ou o treinador que manda malhar mais na articulação X, no músculo Y ou no pentelho Z. Em dois dias conseguem criar qualquer coisa que nem a mãe natureza em dois milhões de anos tem a capacidade de construir: É só querer e malhar, arduamente, ao som do “Estás lindo querido” de cada um dos espelhos.
No regresso ao balneário o artista passa à fase da transmutação de CU em CP, mais uma vez. Passam do vestiário para a zona de banho sem se olharem no espelho e no sentido inverso é a mesma coisa. Parece estranho, não? Não é. O problema é que o espelho espelha e iria ter que lembrar estes senhores da desproporção das suas zonas lombares em relação às suas zonas genitais. Mas que tipo de exercício lhes poderia o espelho recomendar? Por este motivo, no mundo do culturismo, é muito mais fácil passar-se de CP a CU do que o contrário.
Monday, April 10, 2006
Wednesday, April 05, 2006
Espera até que os primeiros raios de Primavera me toquem…
Surprise Ice
When past sometimes takes you with soft hands
Forceless it pulls you to your chair
Hides you away from these half/off days
Sunless, at the end of the year
The air is like a knife cutting through you
A room in the house is always warm
Stretched down on the bathroom floor thinking
Of fair days your future may hold
Love comes like surprise ice on the water
Love comes like surprise ice at dawn
Love comes at dawn
Deprived all the light of colours
The world ends at your window tree
Darkness creates these illusions
That pale days can teach you to see
Rain falls but no life is given
Weeks pass, no progress is made
Past sometimes takes you with soft hands
And all that surrounds you will fade
When past sometimes takes you with soft hands
Forceless it pulls you to your chair
Hides you away from these half/off days
Sunless, at the end of the year
The air is like a knife cutting through you
A room in the house is always warm
Stretched down on the bathroom floor thinking
Of fair days your future may hold
Love comes like surprise ice on the water
Love comes like surprise ice at dawn
Love comes at dawn
Deprived all the light of colours
The world ends at your window tree
Darkness creates these illusions
That pale days can teach you to see
Rain falls but no life is given
Weeks pass, no progress is made
Past sometimes takes you with soft hands
And all that surrounds you will fade
Kings of Convenience